22.12.15

Resenha: Minha metade silenciosa

Hoje eu venho falar de um youg adult (YA) que me tocou bastante, e que eu praticamente devorei. Trata-se de Minha metade silenciosa, do autor Andrew Smith.

                           



Sinopse:


Stark McClellan tem 14 anos. Por ser muito alto e magro, tem o apelido de Palito, mas sofre bullying mesmo porque é “deformado”, já que nasceu apenas com uma orelha. Seu irmão mais velho, Bosten, o defende em qualquer situação, porém ambos não conseguem se proteger de seus pais abusivos, que os castigam violentamente quase todos os dias.
Ao enfrentar as dificuldades da adolescência estando em um lar hostil e sem afeto – com o agravante de se achar uma aberração –, o garoto tem na amizade e no apoio do irmão sua referência de amor, e é com ela que ambos sobrevivem.
Um dia, porém, um episódio faz azedar terrivelmente a relação entre Bosten e o pai. Para fugir de sua ira, o rapaz se vê obrigado a ir embora de casa, e desaparece no mundo. Palito precisa encontrá-lo, ou nunca se sentirá completo novamente. A busca se transforma em um ritual de passagem rumo ao amadurecimento, no qual ele conhece gente má, mas também pessoas boas. Com um texto emocionante, personagens tocantes e situações realistas, não há como não se identificar e se envolver com este poético livro.

Ficha Técnica:

Título: Minha metade silenciosa
Autor: Adrew Smith
Editora: Guttenberg
I.S.B.N: 9788582351246
Número de páginas: 304
Ano: 2014
Edição: 1ª

Resenha:


O livro conta a história de Stark McCellan , conhecido como Palito, um garoto de 13 anos muito alto e magro para sua idade que tem uma característica um tanto incomum: Ele não tem a orelha direita. Sua constituição física faz com que seja alvo de bullying na escola. Palito tem um irmão mais velho, Bosten e uma melhor amiga, Emily, e estas com certeza são as pessoas mais importantes da vida dele. Os McCellan vivem num lar altamente controlado por regras e castigos físicos dos mais diversos tipos, fazendo com que os garotos acreditem que isso ocorre em todos os lares.
Este livro é todo cheio de surpresas, e provavelmente vou acabar soltando um ou outro spoiler aqui, mas sem eles duvido que eu consiga fazer um comentário mais aprofundado. Se você não gosta de spoiler, saiba que este não é mais um YA com protagonistas que sofrem bullying, embora pareça a princípio. Excepcionalmente, deixei a sinopse mais acima no post para vocês. Mas para quem não se importa com um spoiler ou outro (não vou revelar o final, fiquem tranquilos), sugiro que continuem lendo a resenha e descubram por que me encantei tanto com este livro. 
Primeiramente, a situação familiar de Bosten e Palito é bastante complicada. Os pais deles estão sempre buscando motivos para castigá-los. É um ambiente de ódio extremo, e mais de uma vez Bosten reafirma para o irmão que eles são indesejados.
Minha mãe e meu pai nunca nos quiseram. Eu. Bosten. Especialmente eu. Eu era uma lembrança de tudo o que estava errado.  
A mínima infração já acarreta em castigos físicos seríssimos (se você acha ruim as chineladas que levou da sua mãe na infância, precisa ler este livro). Os pais são tão especializados em torturar os filhos que têm inclusive um quarto exclusivamente destinado a este fim, o quarto de St. Fillan, que tem este nome por causa do santo padroeiro dos loucos, segundo Palito. 
As pessoas mentalmente retardadas tomavam banho na lagoa de São Fillan. Então, eram deixadas acorrentadas a uma maca a noite toda. De manhã, se as correntes estivessem frouxas, era o sinal de que estavam curadas.

Além dos abusos físicos, fica sugerido um abuso sexual também. O autor, muito perspicaz, deixa o assunto apenas sugerido e pouco explicado (vocês verão como isso acontece ao ler o livro) justamente pelo desconforto que os personagens sentem em relação ao episódio.
Na família McCellan haviam regras para tudo, inclusive para a forma de se vestir e a quantidade de banhos e o local onde eles seriam tomados. Não há amor naquela família, os garotos não têm lar. Por isso há uma grande cumplicidade entre Bosten e Palito. Um sempre está lá para o outro. E aqui está uma grande quebra de clichês em relação aos YA comuns: não é o amor romântico que torna as coisas mais fáceis, mas sim o amor fraternal. Os irmão não têm mais ninguém além deles próprios. Contudo, há um toque de romance na narrativa, que acaba servindo como gatilho para uma situação mais importante na história.  
E não há amor na minha casa, somente regras. 
Em oposição à quantidade de regras que tem que seguir em casa, Bosten tem uma paixão pelo proibido, pelo ilegal. Além disso, está sempre defendendo o irmão de seus agressores, sempre tentando levar a culpa em casa para poupar Palito dos castigos. Com certeza Bosten é o personagem secundário que mais se destaca, chegando até mesmo a roubar a cena do protagonista e narrador da história. A primeira parte do livro é meio triste, meio sombria. Passa-se no estado de  Washington, que pelo o que sei, é bem frio e chuvoso (aprendi lendo Crepúsculo, hahahahaha).
Surpreendentemente, aparece uma tia desconhecida que convida os meninos para passarem o feriado com ela na Califórnia, e obviamente eles vão por imposição dos pais. Lá eles conhecem um mundo totalmente novo. É claro que os novos amigos são bronzeados, todos vão à praia e o clima está sempre ensolarado e alegre. Mesmo sendo um clichê, representa lindamente a sementinha da mudança plantada nos irmãos. Eles saem e um ambiente assustador para dizer o mínimo e encontram na pequena casa de uma senhora desconhecida um lar. Lá eles passam a ser livres para conversar, para escolher as próprias roupas, para se divertir. Em toda a vida deles nunca houve tanto carinho. Até as cenas alegres desta parte têm um tom melancólico por causa do passado. Ao mesmo tempo que são livres, guardam dentro de si muitas mágoas, muitos traumas. Além disso, não ficarão na Califórnia para sempre. 
Quando eles voltam para casa, não são mais os mesmos. Palito passa a contestar o ambiente em que vive. A casa da tia Dahlia foi uma espécie de epifania para o garoto, que não quer voltar à situação tenebrosa em que vivia. Também Emily passa a ser uma figura mais importante em sua vida.
Emily é uma das personagens mais fofas que já conheci. Ela é diferente, não é a típica menininha YA. É inocente e gentil, além de ser uma espécie de conselheira para Palito, pois vive falando que ele precisa se impor. Tudo bem que o foco do livro é a relação entre os irmãos, mas acho que ela poderia ter mais espaço na narrativa. 
As coisas não mudam quem você é. E as coisas não apenas acontecem. 
Um evento acontece na história e provoca uma briga muito séria de Bosten com o pai, levando o rapaz a fugir. Neste momento, Palito tem um amadurecimento repentino e resolve ir atrás do irmão a qualquer custo, como uma forma de pagá-lo por tudo o que fez por ele. Esta parte do livro acontece muito rápido, e é recheada de temas que mereciam uma abordagem melhor, um desenvolvimento maior. Nesta "aventura" Palito aprende muito, e acaba perdendo um pouco de sua inocência.
Falando sobre a inocência de Palito: ele é bastante passivo, como falei. Mas também é um adolescente em plena puberdade, descobrindo o próprio corpo. Não raro ele sente-se excitado sexualmente, e muito constrangido por isso. Eu sei que esta questão incomodou a algumas pessoas (andei vendo algumas resenhas sobre o livro após a leitura, é o que acontece quando fico apaixonada por uma obra), mas particularmente eu achei interessante. Afinal, o livro aborda a vida de Stark McCellan como um todo e não apenas a questão dos pais. Talvez essa carência de afeto em casa o faça interpretar errado um toque carinhoso da mãe de um amigo, por exemplo. Palito é confuso, é perturbado, tem momentos de infantilidade e momentos em que se mostra incrivelmente sensato. Afinal, é um adolescente, e está naquela transição entre ser criança e ser adulto. 
Acho que, às vezes, coisas que parecem muito importantes tomam outro aspecto quando a gente se vira e olha de novo alguns quilômetros adiante. 
Um aspecto que me deixou um pouco chateada (e é só por isso que não darei nota máxima) é o final do livro. Muitos fatos ficaram em abertos, muitos personagens não tiveram um final adequado. Mas tento imaginar se fosse  minha história: Se eu escrevesse algo da minha vida de um ponto em um passado recente até agora, com certeza muitas coisas ficariam sem explicação. Haveriam muitas dúvidas sobre o passado de algumas pessoas e sobre o futuro de outras. Espero que tenha sido esta a intenção do Andrew Smith, e não um fechamento mal feito. Eu realmente queria que este livro tivesse uma continuação, estou me sentindo a Hazel Grace em A Culpa é das Estrelas e pensando seriamente em ir perturbar o autor em busca de explicações sobre o destino de alguns personagens. Outro aspecto que me incomodou foi a falta de referência quanto à época em que se passa a história. Não parece atual (embora o livro seja de 2011), já que ninguém fala em internet, celular ou Facebook, no máximo em telefones. 
A leitura do livro é extremamente fluida e condizente à linguagem de um adolescente comum de 13 anos. É exatamente o tipo de livro que eu gosto: me faz ficar por dias e dias remoendo a história e querendo fazer amizade com os personagens. Toda hora me pego pensando em Palito e Bosten. 
Vou dar só 4  aviõezinhos pelos motivos que expliquei acima. Se não fosse por isso seriam 5 com louvor. E este livro entrou para minha lista de favoritos do ano, quem sabe até da vida. 


2 comentários:

  1. Olá :)
    Confesso que eu não curto muito livros em que os personagens sofrem, mas o tema bullying sempre é muito interessante!

    Beijão,
    http://livrosentretenimento.blogspot.com.br/

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    Respostas
    1. Sério? Nossa, eu adoro drama! Bullying é mesmo um tema muito interessante, porém o livro não é só isso, ele vai além. Acaba que a relação entre os irmãos é o mais importante da história.
      Obrigada pela visita é um feliz natal!!

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Ilustração por Wokumy • Layout por