12.7.16

Resenha: Senhora

 
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Título: Senhora
Autor: José de Alencar
Editora: ABC
Ano:2006
Número de Páginas:234
ISBN: 85-87653-70-9

Senhores passageiros o destino de hoje é Senhora, este livro incrível escrito pelo ilustre José de Alencar. Para convencê-los a continuar neste voo, irei apresentar brevemente a história.
Aurélia, uma moça rica e dona de si precisa de um marido. Afinal, em sua época, um marido era essencial. Ela é linda e tem todos os homens aos seus pés. Porém, ela deseja casar-se com um homem em especial, o Fernando. Este rapaz gosta da boa vida e de luxo, apesar de ser pobre. Ele recebe uma proposta de casamento com um dote altíssimo, sua chance de mudar de vida. Porém, só irá conhecer a noiva no dia do casamento. Ao longo da história, conhecemos os motivos que levaram Aurélia a comprar seu marido.
Acho que a última frase deixou a ṕulga atrás da orelha de muita gente. Afinal, não é todo dia que uma mulher compra um marido, ainda mais em pleno século XIX. 

Eu não sei se posso chamar Senhora de um romance feminista, mas com certeza ele mostra um empoderamento feminino, algo que as mulheres praticamente não tinham naquela época. Num período onde até votar era proibido para as mulheres, Aurélia tinha uma independência bastante significativa. Ela entendia de negócios e tinha um tutor apenas por exigências legais, pois era perfeitamente capaz de administrar suas contas e de se virar sozinha. Nem morar com o tutor Aurélia morava, mas com uma senhora que a acolheu em um momento difícil.
Queria que me dissessem os senhores moralistas o que é esta vida senão uma quitanda? Desde que nasce um pobre diabo até que o leva a breca não  faz outra coisa senão comprar e vender? Para nascer é preciso dinheiro, e para morrer ainda mais dinheiro. Os ricos alugam seus capitais; os pobres alugam-se a si, enquanto não se vendem de uma vez, salvo o dinheiro do estelionato(p.45).
Mas afinal, quem é Aurélia? 
Ela é uma moça de origem humilde. Batalhou muito com sua mãe para se sustentarem, pois seu pai falecera. Aurélia era muito inteligente e tudo aprendia com facilidade. Era um verdadeiro desperdício na época as mulheres serem tão restritas à carreiras que demandem habilidades intelectuais. 
Sua mãe insistia que ela saísse à janela para conhecer rapazes. Afinal, o casamento era a única forma de ascenção social feminina. Dona Emília queria que Aurélia arranjasse bom partido, mas ela acabou se apaixonando por Fernando Seixas.
Esta capa é linda demais!!
Seixas era um rapaz estudado, porém explorava a mãe e as irmãs para que pudesse ter algum luxo. Suas irmãs também procuravam marido e trabalhavam, enquanto Fernando levava seu emprego com displicência. Resumindo, ele era um folgado. E as mulheres da família se consideravam inferiores, admitindo que pelo fato de ser o chefe da família, Fernando merecia todo o conforto do mundo por mais que elas passassem necessidades. 
Aurélia e Fernando estavam noivos, quando o rapaz encontrou uma mulher que lhe ofereceu um dote infinitamente maior. 
O tempo passou e Aurélia perdeu a mãe e o irmão. Além disso, ela recebeu a herança de seu avô paterno, saindo então da miséria e se tornando milionária. Como precisava de um marido, resolve vingar-se de Seixas comprando-o, já que ele ainda não havia se casado com Adelaide, a moça do dote maior.
Alencar explora neste romance as várias facetas da personalidade de uma mulher. Apesar de o livro ser caracterizado como um romance romântico urbano, Aurélia pouco se parece com as mulheres idealizadas do autor. Ela é humana e tem defeitos, por exemplo, o orgulho, o rancor, a soberba e os caprichos. Aurélia depois de enriquecer quer que todas as suas vontades sejam atendidas. E deixa isso bem claro para o marido durante a noite de núpcias. Mas ela está longe de ser a vilã de sua própria história. Aliás, não podemos destacar um vilão em Senhora. Os dois protagonistas são complexos e bem construídos, com vários detalhes de sua personalidade trabalhados. 
Fernando, por exemplo, que era um exemplo de futilidade, sentiu-se tão humilhado que procurou mudar sua personalidade, tornando-se mais humilde e trabalhando muito para poder comprar-se de volta. O autor também usou e abusou da ironia e do sarcasmo, principalmente nas falas de Aurélia, para criticar a organização da sociedade patriarcal. 
- Não sabia que as mulheres tinham direito de dar ordens aos maridos. Em todo o caso, eu não usaria meu poder para coisas tão insignificantes. (p.124)
Ao longo do romance vemos o rancor dar lugar ao amor. Aos poucos, o casal vai se apaixonando sinceramente e esta mudança nos dois jovens é lindamente trabalhada. 
Aurélia é uma personagem feminina que eu sem dúvida teria citado no post especial do Dia Internacional da Mulher, caso já tivesse lido Senhora.
Desde que descobri o livro nas aulas de Literatura da escola tive vontade de ler por causa do enredo, mas confesso que tinha medo da escrita do Alencar. Eu achei Til totalmente enfadonho, idealizado demais, aquela perfeição que me enjoava. Também achava a escrita do autor "chata", complicada e rebuscada. Provavelmente tive essa impressão ao ler trechos de Iracema na apostila do colégio. Apesar de Lucíola ter sido uma leitura que quebrou um pouco esse estigma do Alencar como o escritor da romantização e do Brasil que Dom Pedro II queria nos fazer engolir, Senhora me deu uma visão totalmente diferente do autor. 
Este livro deveria ser lido ainda hoje, principalmente por mulheres para que se empoderem, não sejam submissas a homem algum e lutem por seus direitos. Porque numa época bem mais hostil Aurélia conseguiu ser totalmente independente de homens, ainda que o seu "instrumento empoderador" tenha sido o dinheiro, que levou-a a crer que era capaz de tudo, tendo o marido apenas como "um traste indispensável às mulheres honestas"(p.73)
Apesar disso, o livro faz uma crítica ao materialismo, ressaltando a todo momento o poder do dinheiro na sociedade do século XIX. Esta crítica permanece atual. As pessoas ainda valorizam mais o poder material do que a personalidade e os sentimentos.
- Quer dizer que a riqueza é um mal, Aurélia?
- Não é um mal; muitas vezes torna-se um bem; mas em todo o caso é um perigo. Aqueles que se exercitam em jogar as armas , pensam que tudo se decide pela força. O mesmo acontece com o dinheiro. Quem o possui em abundância, persuade-se que tudo se compra (p.160)
Eu gostei muito de Senhora, e não acreditei que poderia simplesmente devorar um livro do Alencar como costumo fazer com best-sellers contemporâneos. Eu até grifei uma página inteira!! 
Eu dou 5 aviõezinhos para este livro com muito gosto! Entrou para os favoritos da vida!

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10 comentários:

  1. "Senhora" foi o primeiro livro do José de Alencar que eu li. Na época, ainda era muito nova para um livro com linguagem tão rebuscada, e não estava entendendo muita coisa, por isso acabei abandonando a leitura. Mas pouco tempo depois, comecei a ler de novo, fui entendendo melhor as coisas, e passei a adorar essa história!
    Eu nunca tinha pensado na Aurélia como uma mulher empoderada, mas agora, concordo com você. Ela tentou se preservar contra o sofrimento causado pela rejeição do Fernando, e se tornou uma mulher dona de si. O casamento comprado traz uma inversão de papéis, porque ele se vê obrigado a fazer o que ela quer, enquanto não pode comprar sua liberdade de volta.
    Adorei a resenha e as fotos! Agora quero muito reler o livro! Pena que a minha edição de Senhora seja bem velhinha...

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    1. Obrigada!! Ainda bem que li Senhora depois de conhecer sobre empoderamento, senão eu não teria entendido por este aspecto. Adoraria ver uma resenha sua deste livro, com certeza será maravilhosa!!

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  2. Oie, desconhecia este livro e tenho vergonha em falar isso, pois José de Alencar é um ícone na nossa literatura. Gostei da sua resenha e fiquei curiosa para lê-lo. Espero achar ele por ai para comprar ou até mesmo na biblioteca de minha cidade. Parabéns pela linda resenha e pelas ótimas fotos.

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    1. Obrigada! Nossa, foi o único livro do Alencar que li sem ser para o vestibular. Leia sim que é muito bom!

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  3. Amo esse livro, foi um dos meus primeiros clássicos haha.
    Li quando ainda estava entrando no mundo da leitura e me ajudou muito a gostar de exemplares bem antigos.
    Adorei a resenha. Parabéns.
    Abraços!
    http://umlivroabertoig.blogspot.com.br/

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    1. Que bom que teve contato com este livro logo cedo! Imagino o impacto positivo que ele teve em você!Obrigada pela visita!

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  4. Olá, Lívia. Achei sua resenha muito concisa e clara, enfim, excelente. Esse foi o único livro do Alencar que li, pelo que me lembro.
    Eu li Senhora na época do ensino médio, e lembro de ter gostado muito, justamente por causa da protagonista mulher e forte e porque estava acostumada a ler romances em que o casal era bem clichê, digo, o modo como se apaixonavam, e o modo como o romance é desenvolvido nesse livro é sensacional!

    Beijinhos, Hel - Leituras & Gatices

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    1. Foi exatamente isso que amei em Senhora!! Eu não tenho paciência para o Romantismo por causa disso, todos os livros são iguais. Mas este não!Ah, muito obrigada!!
      Beijos!!

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  5. Nossa, não fazia ideia de que o livro se tratava disso :O
    A gente é tão acostumado a ver os clássicos com "maus olhos", né?
    Poxa, muito bacana ver que uma história escrita há tanto tempo mostra o empoderamento da mulher. Adoro isso, adoro personagens que não se submetem aos homens *-*

    Beijos,
    Kemmy - Duas Leitoras

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    1. Infelizmente o fato de sermos obrigadas a ler na escola nos faz ter medo dos clássicos. Mas Senhora é um livro delicioso, e já ouvi várias pessoas falando bem. A Aurélia é uma personagem como poucas!
      Beijos!

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Ilustração por Wokumy • Layout por