29.1.16

Resenha: Esaú e Jacó





Título: Esaú e Jacó
Autor: Machado de Assis
Editora: Martin Claret
Ano: 2001
Edição: 4ª edição
Número de páginas: 222
ISBN: 85-7232493-3

Esaú e Jacó conta a história da vida de dois irmãos gêmeos que viam rivalidade em tudo. A história inicia-se com a ida de Dona Natividade e sua irmã Perpétua a uma adivinha, que dá a previsão de que os filhos seriam grandes homens. Logo de início Machado de Assis já começa o seu processo de crítica à sociedade carioca do século XIX e início do século XX: As irmãs vão escondidas à casa da adivinha, pois não pegaria bem mulheres da alta sociedade frequentarem lugares como aqueles. Descobrindo um futuro próspero para os filhos, Natividade ainda dá a um homem que pedia esmolas para ajudar a igreja uma nota de 20 mil réis. Em casa, em uma conversa com o marido, a mulher sente-se envergonhada por ele ser adepto do espiritismo e tenta convencê-lo de manter aquela crença para somente para si, pois a religião considerada correta na época era o catolicismo.  
A narrativa pode parecer um pouco estranha a princípio, mas tente se lembrar das primeiras páginas do livro, em que alguém explica que tal história foi retirada de um caderno do conselheiro Aires (Machado escreveu um livro só para ele, o Memorial de Aires), que escreveu suas memórias sobre aquela família e após a sua morte resolveram publicá-la.  
O casal Santos (Agostinho e Natividade) teve uma surpresa ao nascerem dois meninos. Para ambos os sexos já haviam nomes definidos, mas seria injusto nomear um menino com o nome original e escolher outro nome para o segundo menino. Além disso, o nome que a criança receberia caso fosse uma menina não tinha sua versão masculina. Perpétua, contudo, traz a solução ao voltar da missa: os sobrinhos chamariam Pedro e Paulo por causa dos apóstolos. 
Esaú e Jacó são dois personagens bíblicos, gêmeos também. Esaú vende seu direito de primogenitura a Jacó por um prato de lentilhas. O título faz alusão à rivalidade entre os irmãos. 
O romance é uma história familiar com o pano de fundo da política no Brasil, desde o Segundo Império até a República. Os irmãos vão crescendo e para o desgosto de Natividade, tornam-se cada vez mais rivais. O interessante é que desde criança os irmãos são extremamente politizados, sendo um liberal e republicano e o outro monarquista absolutista. Apesar de terem opiniões e personalidades tão divergentes, os garotos são fisicamente idênticos e se apaixonam pela mesma mulher, a doce Flora, que gosta de ambos igualmente. 
Para serem tão grandes como previu a adivinha, um deles permanece no Rio de Janeiro estudando Medicina enquanto o outro vai para São Paulo cursar direito, de onde volta com seus ideais revolucionários cada vez mais consolidados. 
Para quem vai prestar vestibular em 2016 esta leitura vai ajudar muito, pois traz um panorama histórico do Brasil de maneira bastante contextualizada. Machado de Assis tem uma escrita impecável. Pode ser uma leitura que demande mais tempo por ser um pouco complicada (eu achei um pouco difícil e demorei bastante para ler), porém é uma obra de arte que não tem como não admirar. O enredo, aparentemente simples por se tratar de uma história familiar, é profundo e complexo em suas reflexões, críticas e alegorias. Provavelmente toda pessoa que vai prestar vestibular ouviu falar no confeiteiro que mandou fazer a placa nova para a Confeitaria do Império e no dia seguinte é proclamada a República. Pois bem, é neste livro que aparece esta passagem. 
Também fica bem evidente a falta de participação popular que caracterizou a mudança do Império para a República no Brasil. A população só descobriu quando foi proclamada. 
Que nos bastam as quatro mãos apertadas. Natividade perguntou pelos filhos. Santos opinou que não tivesse medo. Não havia nada; tudo parecia estar como no dia anterior, as ruas sossegadas, as caras mudas. Não correria sangue, o comércio ia continuar.(p.129)

Como é que eles fizeram isso sem que ninguém desse pela coisa - Refletia Paulo. - Podia ter sido mais turbulento. Conspiração houve, decerto, mas uma barricada não faria mal. (...) é que o regime estava podre e caiu por si. (p.132)
 Eu li esta edição de bolso da Martin Claret, com esta capa bem feia (desculpa, editora). As letras são pequenas, com pouco espaçamento entre si, além das páginas brancas. Isso contribui para dificultar a leitura, pois os olhos cansam rápido e fica difícil para enxergar o texto.  Contudo, eu gosto dessas edições por dois motivos: 1- são bem baratas. 2-trazem bons textos de apoio e notas de rodapé. Não só este, mas vários livros desta coleção têm um texto de apresentação bem legal falando sobre a história do livro e como ele passou de um artigo de luxo para edições de banca de jornal.
Este livro merece muito mais que os meus 5 aviõezinhos. O Machado de Assis merece uma frota aérea inteira!

4 comentários:

  1. Olá, Lívia!
    Acho que Esaú e Jacó é a obra do Machado que sempre passou despercebida para mim. Talvez pela alusão à história bíblica, eu tenha criado uma resistência, e até um pouquinho de preconceito, porque embora eu tenha uma religião, não gosto "ver religião em tudo". O título do livro me fazia pensar nisso, e eu nunca procurei por uma sinopse para ler.
    Ainda bem que você, com sua resenha, me fez quebrar esse pequeno preconceito e mudar de opinião! Achei interessante a proposta do livro, pois não me lembro de ter visto a política ganhar tanta evidência em algum romance ou conto do Machado. Acho que uma leitura bem-humorada pode até servir para fazer uma comparação com divergência atual: oposicionistas X governistas. Ou será que estou viajando demais?
    De qualquer forma, adorei a resenha, e já estou com vontade de ler Esaú e Jacó. Adoro vir aqui visitar seu blog, e já ficar com vontade de ler um livro novo!

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    1. Acho que a alusão bíblica foi mais para interar o leitor na história mesmo, talvez uma inspiração. O Machado de Assis era ateu(descobri depois que eu li este livro, ao pesquisar um pouquinho sobre o livro) e as alusões religiosas fazem parte do próprio contexto da época, já que a Igreja era a instituição mais importante. Você gostou de Brás Cubas, acho que vai gostar deste também, até mesmo por ser uma das obras mais maduras do autor. Porém também tem a questão da linguagem rebuscada, que apesar de deixar o texto confuso, também o deixa bastante elegante. Mas o Aires não tem a mesma pompa do Brás Cubas para narrar, nem a ironia. Memórias Póstumas ainda é melhor, porém este também é muito bom.

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  2. Eu li na escola esse livro e amei, e olha que naquele tempo eu não era lá uma grande leitora.
    Porém fiquei totalmente envolvida envolvida.
    Quero reler ele em breve, beijos.
    http://recolhendopalavras.blogspot.com.br

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    1. Eu gostei muito mesmo deste livro, não tem como não se envolver. Releia sim, capaz de ser uma experiência totalmente nova. Minha escola não pediu este livro, mas pediu Dom Casmurro e eu amei!

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