Resenha: O retorno do Jovem Príncipe

Título: O Retorno do Jovem Príncipe

Autor: A.G. Roemmers

Editora: Fontanar

Edição: 1
Ano: 2011
Número de páginas: 112
ISBN: 853900254X

O Retorno do Jovem Príncipe trata-se de uma espécie de continuação de O Pequeno Príncipe, clássico de Antoine de Saint-Exupery. O  autor argentino conta uma história em certos aspectos semelhantes à original, utilizando-se do mesmo protagonista, embora mais velho. Nesta historia, o Príncipe de cabelos da cor do trigo mantém algo de sua inocência infantil, porém já encontra-se em um estágio de conhecimento das mazelas da alma. 

Tudo começa quando um viajante argentino encontra um adolescente loiro caído às margens de uma estrada, em meio à Patagônia. Tomado por um instinto, coloca o completo desconhecido no banco traseiro de seu carro e espera que ele acorde. A primeira fala do princepezinho já nos retoma à obra de Exupery. Ele pede água, e o narrador começa a ter suas suspeitas, mas ainda precisa ouvir algumas perguntas do rapaz até que ele descubra que se trata do Pequeno Príncipe que cresceu e agora busca seu amigo aviador. Então, os dois continuam a viagem com vários diálogos, com perguntas muito semelhantes às do príncipe da historia original.

- Estou com sede- disse o jovem de repente, assustando-me, pois eu já quase esquecera que não estava só.   

O livro é extremamente metafórico, e eu associaria a erva daninha à malícia que adquirimos ao sairmos da infância. É quase como se fosse o "diabinho" que temos dentro de nós que alimenta nossas desconfianças. 

No decorrer do livro, o Jovem Príncipe dá belas lições de generosidade, desprendimento e compaixão. Ele continua a alma iluminada que veio para nos abrir os olhos do coração para o mundo. Com suas perguntas sobre assuntos aparentemente banais, o narrador-personagem (sim, o livro é narrado em primeira pessoa assim como a obra francesa) nos dá belos ensinamentos, cheios daquelas frases bonitinhas para postar no Facebook ou escrever na contracapa do caderno. O problema é que não há uma só página onde não existam esses ensinamentos e frases de efeito. Diferentemente da primeira parte, em que as metáforas são dosadas em meio a pequenas narrativas e as mensagens vêm das aventuras do princepezinho, no Retorno do Jovem Príncipe elas são quase compulsivas. A obra é quase um livro de mensagens iluminadas o que particularmente me cansou um pouco. Isso se agrava pela pequena extensão da obra, que poderia ter uma história bem desenvolvida revelando outros aspectos da vida do Jovem Príncipe e a busca pelo amigo aviador. Em vez disso, o autor resolveu se aproveitar de uma história mundialmente famosa e escrever outra, com mensagens muito bonitas sim, mas em demasia. 

Foram elucidadas questões sobre o que é um problema, sobre o que é o amor e como alguém pode se amar sendo ciente de seus próprios defeitos. O que eu gostei bastante é que uma  explicação já fazia gancho com a próxima mensagem. Dessa forma, ao concluir uma explicação, o narrador precisava responder outra pergunta simples, embora profunda, do Jovem Príncipe.

-Um problema é como uma porta da qual você não tem a chave.

Não acho que haja um problema neste uso da personagem, inclusive foi autorizado pela família de Exupéry. Achei inclusive muito interessante a proposta. Porém me decepcionei um pouco, pois criei expectativas que não foram cumpridas. Não creio que o livro tenha me marcado tanto como o primeiro devido a esse caráter um pouco forçado. Mas isso também não significa que eu não tenha gostado nem um  pouco. Houveram partes emocionantes por um lado, revoltantes por outro, mas que foram lindamente explicadas pelo autor. Ele realmente soube utilizar algumas situações para nos dar belos ensinamentos. Pena que tenha pecado pelo excesso. 

Mas vamos supor, por enquanto, que seu amigo enganou você. Isso justificaria sua raiva, sua desilusão e até sua tristeza, mas não pode explicar o fato de você ter parado de se deslumbrar com a beleza da flor, a poesia dos crepúsculos e a música das estrelas. 

Particularmente a frase de efeito que mais me marcou foi esta abaixo: 

Desconfie daqueles que destroem seus sonhos com a desculpa de que estão fazendo um favor, porque geralmente eles não têm nada para oferecer em troca! 

 O livro tem páginas brancas, letras razoavelmente grandes, e o que eu achei muito fofo foram as principais frases de efeito em páginas separadas, com uns detalhes em preto e branco. Até facilita na hora de encontrarmos mensagens para citar (desconfio que seja este um dos propósitos da obra). 

Enfim, se você gosta de O Pequeno Príncipe, sugiro que dê uma chance ao livro. Mas não vá com grandes expectativas de ver uma continuidade da história, é mais uma recontagem, por uma outra visão e em outro tempo. Eu daria 3 para o livro em uma escala de 0 a 5.