24.8.15

Resenha: Sombra Severa


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Sombra Severa, do pernambucano Raimundo Carrero, conta a história de um tiangulo amoroso permeado por traições, inveja e maldade. Tudo começa quando Abel rapta sua amada Dina da casa dos pais, despertando a ira do irmão mais novo, Judas, que prevê um duelo entre
Abel e os irmãos da moça. Então, ele prepara um caixão e ordena que o irmão mais velho finja-se de morto, enquanto esconde Dina na capela da fazenda Jati, onde vivem. Ele aproveita a escuridão do ambiente abandonado e estupra Dina, desonrando-a. Em seguida, conversa com os irmãos dela, falando que assume a responsabilidade por Abel, que está "morto", casando-se com a moça, para que não fique desonrada. A inveja que sente de Abel é tamanha que após abusar de Dina, Judas perde completamente o desejo que sentia por ela, principalmente após a descoberta da traição. O silêncio em que Abel cai após tal descoberta é tamanho que leva Judas a assassiná-lo.
Raimundo Carreiro utiliza nomes bíblicos que casam completamente com a personalidade das personagens, muito bem construídas: Judas, o traidor, Abel, o irmão assassinado, Sara (mãe de Dina), a mulher que teve filhos depois de idosa. Além disso, mistura os elementos cristãos à magia da cartomancia, que se tornam o principal guia das angústias de Judas.
A narrativa é praticamente muda, o que expressa muito bem os conflitos internos dos personagens, traduzidos pelo narrador onisciente e digressões. O silencio traz aos leitores a sensação de impotência, a  culpa, a vergonha, e a angústia.
Os personagens parecem predeterminados aos seus destinos, tanto é que Dina, no dia seguinte do conflito, já assume seu papel de dona de casa. O narrador usa o triangulo várias vezes para simbolizar a relação entre Abel, Judas e Dina, além das ínfimas referencias à tempo e espaço, o que nos deixa sem saber se a história é do tempo do Brasil colonial ou se acontece hoje em um vilarejo qualquer no interior do país.
Enquanto Judas digere sua culpa, ele volta à infância, por meio de digressões, explicando de onde surgiu tamanha inveja de seu irmão. Ao mesmo tempo, Dina também retoma a história de sua mãe, que, como ela, fugiu de casa para casar.
Usando elementos de sensualidade e da tomada da identidade de Abel, Dina confunde Judas, que fica completamente perturbado no avançar do romance.
Apesar de curto, o livro de Raimundo Carreiro permite profundas análises psicológicas, a retomada do mito do homem original, tragédias gregas, releituras bíblicas e o Regionalismo de Graciliano Ramos.
Confesso que a história me surpreendeu bastante, fazia muito tempo que um nacional não me intrigava tanto, e graças à minha TBR Jar tive a oportunidade de conhecer esse livro, que estava empoeirando na minha prateleira e eu nutria por ele sérios preconceitos por ter sido leitura obrigatória de alguns vestibulares no Pernambuco (eu tenho más experiencias com leituras obrigatórias).Gostei tanto que apesar do meu tempo corrido, li em uma semana.
O meu exemplar é da editora Iluminuras, publicado em 2001 (na verdade é um relançamento do original de 1984).
Pelo romance, o autor ganhou o prêmio José Conde, pelo Governo de Pernambuco. Além disso, Carrero já foi vencedor do Prêmio Jabuti, Prêmio São Paulo de Literatura e dois prêmios Machado de Assis, da Fundação Biblioteca Nacional.



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Ilustração por Wokumy • Layout por